sexta-feira, 22 de abril de 2011

Poesias de Alvarenga Peixoto

À MARIA IFIGÊNIA
Em 1786, quando completava sete anos.

Amada filha, é já chegado o dia,
Em que a luz da razão, qual tocha acesa,
Vem conduzir a simples natureza:
— É hoje que teu mundo principia.

A mão que te gerou, teus passos guia;
Despreza ofertas de uma vã beleza,
E sacrifica as honras e a riqueza
Às santas leis do Filho de Maria.

Estampa na tu' alma a Caridade,
Que amar a Deus, amar aos semelhantes,
São eternos preceitos de verdade;

Tudo o mais são idéias delirantes;
Procura ser feliz na Eternidade,
Que o mundo são brevíssimos instantes.


DE AÇUCENAS E ROSAS MISTURADAS

De açucenas e rosas misturadas
não se adornam as vossas faces belas,
nem as formosas tranças são daquelas
que dos raios do sol foram forjadas.

As meninas dos olhos delicadas,
verde, preto ou azul não brilha nelas;
mas o autor soberano das estrelas
nenhumas fez a elas comparadas.

Ah, Jônia, as açucenas e as rosas,
a cor dos olhos e as tranças d'oiro
podem fazer mil Ninfas melindrosas;

Porém quanto é caduco esse tesoiro:
vós, sobre a sorte toda das formosas,
inda ostentais na sábia frente o loiro!
À D. BÁRBARA HELIODORA

Bárbara bela, Do Norte estrela,
Que o meu destino Sabes guiar,
De ti ausente Triste somente
As horas passo A suspirar.

Por entre as penhas De incultas brenhas
Cansa-me a vista De te buscar;
Porém não vejo Mais que o desejo,
Sem esperança De te encontrar.

Eu bem queria A noite e o dia
Sempre contigo Poder passar;
Mas orgulhosa Sorte invejosa,
Desta fortuna Me quer privar.

Tu, entre os braços, Ternos abraços
Da filha amada Podes gozar;
Priva-me a estrela De ti e dela,
Busca dous modos De me matar!

(Poema dedicado à sua esposa,
remetido do cárcere da Ilha das Cobras

Quem foi Alvarenga Peixoto:


Inácio José de Alvarenga Peixoto (1744?-1792) estudou com os jesuítas e formou-se com louvor na Universidade de Coimbra. Foi juiz e ouvidor. Casou-se com uma poetisa e deixou a magistratura, ocupando-se da lavoura e mineração no MG. Foi implicado na Inconfidência Mineira junto com seu parente, Tomás Antônio Gonzaga, e seu amigo Cláudio Manuel da Costa. Sentenciado a morte, teve a sentença comutada para degredo para Angola, onde morreu num presídio. Sua obra artística foi pequena, mas bem acabada. Segue um exemplo.

"Eu vi a linda Jônia e, namorado,
Fiz logo voto eterno de querê-la;
Mas vi depois a Nise, e é tão bela,
Que merece igualmente o meu cuidado."